Qual o impacto de dietas ricas em gorduras e de dietas ricas em frutose nas doenças metabólicas como a obesidade, diabetes tipo 2 e Fígado Gordo Não Alcoólico?
Maria João, Paula Macedo e Inês Lima
Esta pergunta é respondida na investigação liderada por Paula Macedo, do grupo MEDIR. No artigo publicado na revista Frontiers in Endocronology, os investigadores sugerem que excessos específicos na dieta podem influenciar diferencialmente o aparecimento prematuro de perturbações metabólicas. Foi o que discutimos com a primeira autora do estudo, Maria João Meneses:
Que descobertas os levaram à investigação descrita na vossa publicação?
Embora a sensibilização para as perturbações metabólicas como a obesidade e a diabetes mellitus tipo 2 tenha aumentado ao longo dos anos, a sua prevalência na população continua a aumentar drasticamente. A maioria dos casos deve-se ao consumo excessivo de alimentos altamente processados e densos em energia, frequentemente combinados com um estilo de vida sedentário.
Estes hábitos de vida levam a disfunções metabólicas que podem acabar no início da hipertensão, diabetes mellitus tipo 2, doença cardiovascular, alterações nos lípidos do sangue (dislipidemia) e doença hepática gorda não alcoólica (NAFLD). A NAFLD é a causa mais comum de doença hepática crónica nos países ocidentais, tendo uma prevalência notificada de 6-35% em todo o mundo.
O excesso de lípidos/gordura e açúcares da dieta afeta não só o fígado, mas também outros órgãos como o tecido muscular ou o tecido adiposo. Considerando as especificidades dos órgãos, as disfunções num destes órgãos terão impacto noutros, nomeadamente nos casos de resistência à insulina e inflamação, e alterações metabólicas em geral.
O que estavam a tentar perceber e qual a principal descoberta deste trabalho?
A hipótese do estudo é que o conteúdo dietético em lípidos ou açúcares afeta de forma distinta a rede metabólica (metaboloma) dos órgãos sensíveis à insulina. Relativamente aos açúcares, concentrámo-nos na frutose, que está presente nos refrigerantes e no xarope de milho com alto teor de frutose, um adoçante comummente presente nos alimentos processados para realçar o seu sabor. O nosso objetivo neste estudo foi avaliar o metaboloma dos órgãos sensíveis à insulina, como é o caso do fígado, músculo e tecido adiposo branco e castanho em animais alimentados com uma dieta rica em gorduras ou frutose. De facto, os nossos dados mostram que as dietas com elevado teor de gordura e frutose têm um impacto negativo, mas distinto no metaboloma do fígado, do músculo e do tecido adiposo.
Porque é que isso é importante?
Como mencionado e dada a ligação entre o aumento do consumo de gordura e açúcares e o aumento da prevalência de perturbações metabólicas, é crucial revelar os efeitos da dieta nos tecidos sensíveis à insulina, tais como o fígado, o tecido muscular e o tecido adiposo e como pode contribuir para o aparecimento de perturbações metabólicas.
Podem usar uma analogia para nos ajudar a entender esta investigação?
Os metabolitos nos tecidos podem variar substancialmente numa variedade de condições ambientais e fatores biológicos, tais como a dieta e/ou doenças. Além disso, estes metabolitos variam de forma diferente entre os tecidos. Aqui, quisemos compreender como é que a gordura saturada e a frutose, que estão muito presentes nos alimentos processados tais como fast food e refrigerantes, podem afetar o metaboloma dos tecidos de forma diferente, sendo que a dieta rica em gordura provoca efeitos mais nefastos no desenvolvimento de doenças metabólicas.
Que perguntas precisam ainda de ser feitas?
Cada um de nós tem uma dieta única. Aqui, investigámos os efeitos de dietas ricas em lípidos e em frutose. No entanto, existem componentes da dieta que poderão ter efeitos nocivos, nomeadamente outros açúcares ou lípidos. Além disso, avaliámos tecidos específicos sensíveis à insulina e precisamos de abordar os efeitos noutros tecidos e também no sangue.
Ler artigo completo aqui:
Meneses MJ, Sousa-Lima I, Jarak I, Raposo JF, Alves MG, Macedo MP. Distinct impacts of fat and fructose on the liver, muscle, and adipose tissue metabolome: An integrated view. Front Endocrinol (Lausanne). 2022 Aug 17;13:898471. doi: 10.3389/fendo.2022.898471
Maria João Meneses
Post-Doctoral Fellow
Inês Sousa Lima
Researcher
João Filipe Raposo
Co-PI, Medical Scientist