O papel duplo da dopamina

Sabiam que a dopamina tem um papel na captação de glicose e na doença de Parkinson?

Este é um dos resultados Controlo Neuronal das Doenças Metabólicas, publicados na Frontiers in Pharmacology, do grupo Neuronal Control of Metabolic Disturbances, liderado pela pesquisadora Sílvia Conde, do CEDOC-NMS. 

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Esta investigação tem Gabriela Tavares como primeira autora e constitui um passo importante no desvendar destas vias metabólicas que se sobrepõem.

Que descobertas vos levaram à investigação descrita na publicação?

A dopamina é um regulador chave do metabolismo da glicose no sistema nervoso central e também está presente no periférico, onde pode ter efeitos diretos nos tecidos sensíveis à insulina. A bromocriptina, um agonista de um tipo de receptor de dopamina, é um medicamento aprovado pelo FDA para diabetes tipo 2. Anteriormente, demonstramos que a bromocriptina remodela a sinalização da dopamina no tecido adiposo e melhora o perfil metabólico na diabetes tipo 2.

Portanto, estes resultados sugerem uma possível ação periférica da bromocriptina e, consequentemente, da dopamina, sobre o metabolismo da glicose, que precisa ser explorada.

O que estavam a tentar compreender e qual a principal descoberta deste trabalho?

Estávamos a tentar desvendar o papel da dopamina periférica na regulação da captação e do metabolismo da glicose em tecidos sensíveis à insulina. Com este trabalho, mostramos, pela primeira vez, que a dopamina periférica estimula a captação de glicose com papéis diferentes para cada uma das isoformas dos receptores de dopamina. Também mostramos pela primeira vez que a dopamina tem um papel no metabolismo lipídico no tecido adiposo branco.

Porque é que isso é importante?

Mais estudos são necessários para esclarecer e testar a hipótese de que a dopamina, além do seu importante papel no controlo neuronal, é também um modulador periférico da sinalização da insulina e captação de glicose. Em conjunto, estes resultados sugerem que a modulação periférica do sistema dopaminérgico deve ser avaliada posteriormente como uma abordagem terapêutica putativa para distúrbios metabólicos.

Podem usar uma analogia para nos ajudar a entender esta investigação?

Dá para imaginar que uma molécula envolvida numa importante desordem neurológica como o Parkinson também pode ser usada no tratamento de diabetes e/ou obesidade: essa molécula é a dopamina e, além de seu importante papel na transmissão de mensagens entre as diferentes partes do cérebro e no controlo do movimento, descobrimos que também é importante para regular a função da insulina em nossa gordura.

Que perguntas ainda precisam ser feitas?

A formação de heterodímeros entre D2R e D1R está bem estabelecida no cérebro, porém, não existem estudos a respeito deste tipo de heterodimerização em órgãos periféricos, o que pode contrastar com os resultados encontrados neste trabalho sobre o envolvimento diferente de cada tipo de receptor de dopamina na metabolismo da glicose na periferia. Além disso, a dopamina não é capaz de cruzar a barreira hematoencefálica, por isso ainda não foi abordado como os efeitos indiretos da dopamina sobre o metabolismo da glicose se conjugam com os efeitos diretos periféricos que mostramos aqui.

Podem ler o artigo completo em Frontiers in Pharmacology, intitulado"Peripheral Dopamine Directly Acts on Insulin-Sensitive Tissues to Regulate Insulin Signaling and Metabolic Function", aqui.