Apesar do importante papel das células T na artrite reumatóide mas não se sabe porque é que as células T atacam as articulações e não outros órgãos. Nesta publicação da Nature Communications Biology, Helena Soares e o seu grupo, juntaram-se à investigação clínica, com a participação de 120 pacientes de artrite reumatoide do Hospital Egas Moniz em Lisboa, colaborando com os grupos de Jaime Branco e Fernando Pimentel também, todos do CEDOC-NMS.
Falámos com a Helena e a Daniela Saraiva, primeira autora do estudo, para nos desvendarem os principais resultados deste trabalho:
Que descobertas vos levaram à investigação descrita nesta publicação?
Identificamos um subconjunto de células T, um tipo de glóbulos brancos, que é expandido em pacientes com artrite reumatóide. O que distingue essas células T é o fato de expressarem um receptor, o TLR4, comum nas células do sistema imunológico inato, mas pouco nas células T. Como nas células imunes inatas, o TLR4 detecta infecções bacterianas e danos aos tecidos, pensamos que o TLR4 poderia estar desempenhando um papel importante na orientação das células T para liberar citocinas, proteínas envolvidas na inflamação, seletivamente nas articulações. Reforçando nossa hipótese, as células T com TLR4 (TLR4 +) foram enriquecidas nas articulações quando comparadas ao sangue. Mecanisticamente, descobrimos que as células T TLR4 + equilibram uma produção de anticorpos versus um programa de equilíbrio de tecidos, dependendo das pistas ambientais que recebem por meio de TLR4.
O que estavam a tentar entender e qual a principal descoberta deste trabalho?
A nossa pergunta principal era, na verdade, muito simples. Estávamos a tentar entender como a especificidade conjunta é alcançada. Ou seja, queríamos identificar os sinais que instruem as células T a implantar o seu programa inflamatório nas articulações. Se pensarmos bem, as células do sistema imunológico, e as células T em particula,r estão por todo o corpo, mas na artrite reumatóide o principal (e primeiro) dano é nas articulações. Queríamos entender como o ataque a esse tecido ocorria, em nível molecular.
Por que isso é importante?
É importante porque estamos a estudar doenças diretamente em humanos. Além disso, estamos a fazer isso não apenas de um ponto de vista observacional (que na verdade são muito úteis na obtenção de informações), mas também queremos dissecar os mecanismos moleculares e celulares que levam às doenças. Este trabalho revelou um caminho pelo qual podem ocorrer danos nas articulações. Identificar essas vias é a primeira etapa no desenvolvimento de um projeto de drogas mais específico e direcionado.
Conseguem usar uma analogia para nos ajudar a entender este trabalho?
Sim, é como se o TLR4 nas células T funcionasse como um GPS que “informa” as células T sobre onde estão no corpo e se chegaram ao destino final, que neste caso são as articulações. Provavelmente uma analogia melhor seria um GPS em um carro futurista, em que o TLR4 além de “informar” as células T onde elas estão, uma vez chegadas ao destino “diz-lhes" o que fazer a seguir, neste caso colocar o pé no acelerador. Helena Soares
Que perguntas ainda precisam ser respondidas?
Neste artigo, apresentámos um mecanismo onde as células T TLR4 podem produzir mais citocinas pró-inflamatórias na articulação que irão desencadear indiretamente a erosão da cartilagem e do osso conectada à artrite reumatóide. No entanto, pensamos que essas células podem, na verdade, ter um papel mais proeminente na doença. Portanto, estamos a investigar se as células T TLR4 podem exercer diretamente a erosão óssea e o seu mecanismo subjacente. Decifrar estas vias pode ter um grande impacto na forma como os pacientes são tratados, pois seríamos capazes de identificar os pacientes que estão mais sujeitos à destruição articular antes que o dano já esteja avançado, detectável apenas por raios-X, e tratá-los seletivamente . Daniela Silva