O grupo de investigação em “Tráfego Neuronal no Envelhecimento” da NOVA Medical School, liderado por Cláudia Almeida, fez uma descoberta com impacto na compreensão da fisiopatologia da Doença de Alzheimer de início tardio. O estudo, recentemente publicado na revista Journal of Neuroscience, revelou que o gene CD2AP, identificado como fator de risco genético no desenvolvimento da doença, desempenha um papel essencial na estrutura e funcionamento das sinapses - pontos de comunicação entre neurónios -, fundamentais para manter funções neuronais como a memória.
Estudos anteriores indicam que, aproximadamente 20 anos antes da manifestação clínica da Doença de Alzheimer, começa a verificar-se a perda de sinapses nos neurónios, mas era desconhecido o mecanismo responsável. Para além do estilo de vida, sabe-se também que são vários os fatores de risco genéticos que aumentam a predisposição para o desenvolvimento de Alzheimer, sendo o gene CD2AP um dos mais importantes. Porém, não era ainda conhecido se a perda de função desse gene poderia afetar as sinapses.
A equipa da NOVA Medical School descobriu que a perda de função do CD2AP leva à redução da formação de sinapses e da atividade neuronal, sendo que este efeito é devido a alterações morfológicas ao nível das espinhas dendríticas. Estas são projeções que se formam nas dendrites - estruturas dos neurónios - e que funcionam como “mini-antenas” que recebem informação de outros neurónios.
O grupo de investigação determinou ainda que sem o CD2AP, o citoesqueleto de actina da espinha dendrítica - que dá forma e suporte a esta estrutura importante para a comunicação entre neurónios - fica comprometido e leva à eliminação das espinhas dendríticas e das sinapses. Além disso, foi demonstrado que uma mutação genética do CD2AP, identificada em doentes com Alzheimer, interfere de igual forma com a função normal das sinapses.
De uma forma geral, os resultados do estudo permitem explicar como variantes do gene CD2AP podem aumentar o risco de perda de sinapses e, assim, desenvolver a Doença de Alzheimer. "Só entendendo como as variantes nos nossos genomas aumentam a probabilidade de desenvolver a doença é que poderemos criar tratamentos personalizados para os portadores", explica Cláudia Almeida, líder do estudo. “Sabemos que a perda de sinapses ocorre muito antes da manifestação da doença, por isso, prevenir essa perda pode ser uma forma de tratar a doença”, acrescenta a investigadora.
No futuro, a equipa de cientistas pretende estudar de que forma se pode proteger as sinapses da perda de função do CD2AP. “Já comprovámos que a terapia genética in vitro funciona em neurónios de ratos; a seguir, queremos investigar sistemas mais complexos como, por exemplo, neurónios humanos e outros modelos que permitam recapitular as várias fases da doença e, assim, compreender a comunicação entre diferentes tipos de células do cérebro que leva à propagação da toxicidade da doença”- explica Cláudia Almeida.