C.N.Santos Lab | Poderá uma planta endémica portuguesa ajudar na luta contra a doença de Parkinson?

Investigadoras da NMS revelam composto de folhas da camarinha a planta endémicas portuguesa, genipina, com potencial como tratamento inovador para a doença de Parkinson.

Daniela Marques, Cláudia Nunes dos Santos e Rita Rosado-Ramos

 

O laboratório de Cláudia Nunes dos Santos na NOVA Medical School (NMS), Nutrição Molecular e Saúde, fez uma descoberta significativa na investigação da doença de Parkinson, oferecendo nova esperança para milhões de pessoas afetadas por esta condição debilitante. O estudo inovador, intitulado " Genipin Prevents Alpha-Synuclein Aggregation and Toxicity by Affecting Endocytosis, Metabolism, and Lipid Storage", foi recentemente publicado na prestigiada revista científica Nature Communications. Foi também destacado pelo jornal Público com uma entrevista à investigadora principal do estudo.

Com o trabalho levado a cabo pelos primeiros autores Rita Rosado-Ramos (NMS) e Gonçalo Poças (do laboratório de Pedro Domingos no ITQB NOVA), e da última autora Cláudia Nunes dos Santos, a equipa de investigação embarcou numa missão para identificar novas estratégias terapêuticas para combater a doença de Parkinson. A doença de Parkinson, uma doença neurodegenerativa caracterizada pela perda progressiva da função motora, afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Apesar dos esforços extensivos a nível de investigação científica, ainda não existe uma cura para a doença de Parkinson, tornando-se a exploração de novas opções de tratamento um esforço crucial.

Com base no seu trabalho anterior, que demonstrou a capacidade do extrato de folhas de C. album L. (camarinha) de atenuar eventos críticos na patogénese da doença de Parkinson, a equipa aprofundou a compreensão dos mecanismos por trás dos efeitos protetores do extrato contra a toxicidade e agregação da alfa-sinucleína (αSyn) – um marco da doença de Parkinson. Descobriu-se que o extrato da planta tinha efeitos benéficos na redução da toxicidade da αSyn, mas o composto específico responsável por esses benefícios permanecia desconhecido. Determinados em descobrir a molécula ativa, os investigadores iniciaram a fracionamento do extrato das folhas.

αSyn marcada em células com e sem genipina

Através de uma investigação rigorosa utilizando modelos celulares, e animais (moscas da fruta) de agregação de αSyn, os investigadores identificaram com sucesso a genipina, um iridóide, como o composto crucial responsável por inibir a agregação e toxicidade da αSyn. Este trabalho fortalece ainda mais o foco do grupo de pesquisa no estudo das pequenas moléculas naturais para diminuir a gravidade dos sintomas das doenças neurodegenerativas. Além disso, o estudo revelou que este iridóide específico exerce os seus efeitos protetores ao influenciar múltiplos processos celulares, incluindo endocitose, metabolismo e armazenamento de lípidos.

"Estas descobertas relatadas no nosso estudo abrem caminho para a exploração da genipina em modelos pré-clínicos em mamíferos e como molécula principal para terapêutica da doença de Parkinson", comentou Rita Rosado-Ramos. "Além disso, enquanto sugerimos fortemente que a genipina constitui uma molécula principal potencial para a terapia da doença de Parkinson, seria interessante explorar a diversidade química desta classe de compostos iridóides ou modificar a sua química para buscar candidatos mais aprimorados".

A importância desta investigação é vasta, uma vez que a doença de Parkinson impõe um fardo considerável tanto aos indivíduos como à sociedade em geral. Com a sua natureza multifatorial, compreender a base molecular da DP e desenvolver estratégias terapêuticas eficazes são de extrema importância. "Foram feitos enormes esforços tanto para compreender a base molecular da DP como para enfrentar a progressão da doença", explicou Cláudia Nunes dos Santos, investigadora principal do estudo. "Até agora, não há cura, e a falta de estratégias terapêuticas eficazes tem atribuído à DP o estatuto de prioridade em termos de saúde pública".

À medida que a ciência avança, numerosas questões continuam a ser abordadas. Estas descobertas não só destacam o potencial da genipina como candidata terapêutica, mas também abrem caminhos para explorar a diversidade química dentro desta classe de compostos iridóides no intuito de otimizar as suas propriedades terapêuticas e identificar possíveis melhorias.

A natureza colaborativa desta pesquisa destaca o esforço global para enfrentar a doença de Parkinson. Investigadores da NOVA Medical School (incluindo o grupo de César Mendes, investigador principal do laboratório Neurogenética da Locomoção e o grupo de Miguel Seabra, investigador principal do laboratório Mecanismos Moleculares de Doença), Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (iBET), Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier (ITQB NOVA) e várias instituições internacionais uniram-se no compromisso de avançar na compreensão das doenças neurodegenerativas.

Leiam o artigo completo aqui. Podem também ler a notícia do jornal Público aqui.

Cláudia Nunes dos Santos
Rita Ramos
PhD Student
Daniela Marques
PhD Student
Miguel Seabra
Principal Investigator